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Existe uma relação entre diabetes e doença renal crónica?

A diabetes no longo prazo pode provocar várias complicações no organismo. Mas será que a diabetes pode ter influência sobre o rim? Descubra a resposta.

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Com o aumento da prevalência de diabetes ao nível global também o número de casos com complicações desta doença cresceu. Sabe-se que, por exemplo, as alterações microvasculares provocadas pela diabetes no rim conduzem frequentemente ao desenvolvimento de doença renal crónica. Estima-se que cerca de 40% das pessoas que têm diabetes tipo 2 e 30 % das que têm o tipo 1 da doença irão, eventualmente, desenvolver doença renal crónica.

 

A doença renal crónica é definida geralmente por um aumento lento e progressivo dos níveis da proteína albumina na urina (também chamado de albuminúria), o que poderá ser seguido de uma redução da taxa de filtração feita pelos rins (a taxa de filtração glomerular estimada). Além disso, quando não controlada, a doença renal crónica pode progredir para doença renal crónica terminal. Nos países desenvolvidos, cerca de 50% das pessoas que têm doença renal crónica terminal têm diabetes, podendo vir a necessitar de diálise ou, em última instância, de transplante renal.

A anatomia e funcionamento do rim

Para compreender a relação entre diabetes e doença renal crónica, o ideal é fazer uma breve revisão sobre o funcionamento do rim.

 

As principais funções do rim são:

 

  • Regular o volume e a concentração de eletrólitos no sangue (ou seja, de potássio, sódio, cálcio, fósforo);
  • Excretar produtos que resultam do metabolismo;
  • Produzir hormonas envolvidas no controlo da pressão arterial;
  • Produção de novos glóbulos vermelhos;
  • Conversão de vitamina D na sua forma ativa.

 

A produção de urina permite a excreção do excesso de água, sais, ureia e outros produtos resultantes do metabolismo, num processo que compromete três etapas: filtração, reabsorção e secreção.

 

O nefrónio é a unidade funcional do rim, onde ocorre a filtração e cada rim contém aproximadamente 1 milhão de nefrónios. Numa primeira etapa, durante o processo de filtração, o sangue entra nefrónio e dele são filtrados minerais, água e «lixo» do metabolismo. No entanto, consoante as necessidades do organismo, o rim pode reabsorver por exemplo água, glicose e outros componentes que fazem falta para manter o equilíbrio. A esta etapa dá-se o nome de reabsorção. Além disso, existe ainda uma terceira etapa final em que outras substâncias são secretadas para o tubo que irá conduzir o filtrado até à bexiga (incluindo, por exemplo, os medicamentos que são eliminados pela urina). Ou seja, a composição final da urina é o resultado do conjunto de todos estes processos.

Diabetes e doença renal crónica: qual a relação?

Sabemos hoje que uma elevada percentagem de doentes têm simultaneamente diabetes e doença renal crónica. Até hoje diversas teorias foram propostas para explicar a complexidade das alterações provocadas pela diabetes que podem levar à doença renal crónica:

 

Modificações ao nível metabólico

 

Ou seja, a hipótese de que a hiperglicemia e as alterações no metabolismo consequentes podem provocar a perda de estruturas vasculares internas do rim, a que se dá o nome de rarefação microvascular.

 

A presença de hiperfiltração nos primeiros estádios da diabetes

 

Nem todas as pessoas com diabetes irão desenvolver doença renal crónica ou terão esse problema com a mesma trajetória. No entanto, a presença de hiperglicemia no sangue provocada pela diabetes coloca o rim em pressão, que irá tentar reabsorver glicose ao invés de a eliminar pela urina. Porquê? Porque sem a insulina para fazer chegar a glicose às células, as células continuam a precisar de energia e são emitidos sinais de que o organismo precisa de glicose. Assim, o rim reabsorve a glicose, contribuindo paradoxalmente para a hiperglicemia. Além disso, para absorver glicose o rim absorve também outros componentes, como o cloreto de sódio, que provoca a hiperfiltração. A hiperfiltração no longo prazo promove danos nas estruturas do rim, podendo levar à doença renal crónica.

 

Desenvolvimento de neuropatia

 

Se os nervos que conduzem mensagens da bexiga para o cérebro sofrerem danos, a pessoa pode perder sensibilidade. Por exemplo, pode não sentir que tem a bexiga cheia, uma vez que esta mensagem não alcança o cérebro. A pressão constante no rim provocada pela bexiga cheia pode lesionar os rins. Por outro lado, a retenção de urina na bexiga por períodos de tempo longos aumenta a possibilidade de desenvolvimento de infeções urinárias. Além disso, a urina de uma pessoa com diabetes é mais rica em açúcares, constituindo um meio mais propício ao crescimento rápido de bactérias. Por vezes, infeções urinárias que têm início na bexiga podem propagar-se aos rins.

 

Nunca é demais referir que quanto mais cedo são detetados sinais e sintomas de doença renal crónica em doentes com diabetes, melhor será o prognóstico. Além disso, assim poderão ser tomadas medidas de controlo precocemente. 

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Referências
  • Anders HJ, et al., 2018.

  • Vallon V & Thomson SC, 2020.

  • Koye DN, et al., 2017.

  • Diabetes Canada Clinical Practice Guidelines Expert Committee

  • Preuss HG (1993)

  • National Kidney Foundation (NKF)

  • InformedHealth.org

  • Ogobuiro I & Tuma F (2020).

  • Associação Portuguesa de Insuficientes Renais (APIR)

  • Lumen

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