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Planear a gravidez na mulher com diabetes

«Quando estiver grávida, empenho-me a sério em ajustar as minhas glicemias». É um pensamento frequente, mas pouco correto e que é preciso mudar. Saiba porquê!

Antes de mais, para perceber o porquê de planear a gravidez é preciso conhecer alguns factos:

 

  • A mulher com glicemias elevadas durante as primeiras 8 semanas de gestação tem um risco de aborto espontâneo e malformações fetais muito superior ao da população em geral. Até às 8 semanas, formam-se a maioria dos órgãos do embrião. É, por isso, um período em que este é extremamente sensível a agentes externos. Por razões ainda não totalmente explicadas, a glicemia elevada pode induzir alterações na formação dos órgãos.

 

  • Quanto mais elevada a glicemia, maior o risco de malformações (que pode chegar a ser 10-15 vezes superior ao risco da população em geral).

 

  • Como a maioria das mulheres vai à primeira consulta depois das 8 semanas, pode ser tarde para alterar o risco de malformações.

 

  • Na mulher com diabetes há por vezes necessidade de utilizar medicamentos que não são seguros (ou que não há certeza de serem seguros) durante a gravidez. Mais uma vez, as primeiras semanas de gestação são aquelas em que podem surgir as alterações mais graves pelo seu uso. Planear permite mudar a terapêutica em segurança, para a mãe e para o filho.

 

  • A gravidez pode acelerar o desenvolvimento de retinopatia, sendo por isso tão importante fazer uma avaliação oftalmológica antes de engravidar e proceder ao tratamento caso seja necessário.

 

Por um lado, todas as mulheres devem preocupar-se com cuidados pré-concecionais. No entanto, na mulher com diabetes estas medidas são ESSENCIAIS. Pela sua saúde e pela do seu filho. Afinal, ignorar este assunto não faz com que ele não exista.

Saber planear a gravidez

O que são os cuidados pré-concecionais?

 

São o conjunto de cuidados e intervenções que se realizam antes da conceção numa mulher que planeia vir a engravidar. O objetivo é modificar hábitos e identificar alterações que podem ser tratadas ou equilibradas antes do início da gestação. Isto porque, tal como já dissemos, as primeiras semanas de desenvolvimento embrionário são exatamente as mais sensíveis aos efeitos de agentes externos.

 

Em que consistem?

 

 

 

  • Evitar o consumo de certas substâncias como, por exemplo, o tabaco, o álcool e drogas, pelo impacto negativo que têm na saúde em geral e na gravidez em particular;

 

  • Atualizar o calendário de vacinas;

 

  • Realizar uma consulta explicando que o seu objetivo é realizar uma avaliação pré-concecional. Nesta consulta com base na história clínica e na observação física será avaliado se existem alterações que necessitam de ser esclarecidas ou tratadas. É também nesta altura que é importante averiguar se existem doenças familiares que devam ser orientadas para aconselhamento genético.Para além da observação inicial são normalmente realizados exames que a completam.

 

  • Iniciar um suplemento com ácido fólico antes de engravidar. Esta vitamina tomada diariamente diminui significativamente o risco de malformações do sistema nervoso do feto. A diabetes não controlada está entre as situações em que está aumentado o risco deste tipo de malformações. Esta simples medida reduz em 50% o seu risco.

 

A vantagem em procurar uma avaliação pré-concecional e modificar hábitos antes de engravidar está hoje em dia claramente demonstrada. É, assim sendo, um aspeto muito importante da saúde reprodutiva de qualidade.

 

Pré-conceção na mulher com diabetes

 

A diabetes é uma, entre outras doenças crónicas, em que a estabilização da situação médica é ESSENCIAL. Então o que fazer quando se quer engravidar?

 

Primeiro que tudo NÃO parar a contraceção até estar segura de que realizou todos os exames necessários e que se atingiu valores de glicemia adequados e estáveis.

 

Além disso:

 

  • O controlo glicémico deve ser obtido sob as orientações do médico assistente, do dietista e do enfermeiro. Normalmente passa por uma revisão dietética, por um ajuste terapêutico e por uma intensificação da autovigilância. Pode tornar-se necessário fazer glicemias capilares antes e depois das refeições assim como antes de deitar. O objetivo é conseguir valores de jejum entre 70-90 mg/dL e inferiores a 120-140 mg/dL 1-2 horas após as refeições. A hemoglobina glicosilada (Hb A1c) deve ser menos de 1% superior ao valor normal para o laboratório em causa (uma referência frequente é um valor de 6,5% de Hb A1c). Com a normalização da glicemia previamente à gravidez estão diminuídos os riscos de malformações fetais.

 

  • É necessário fazer uma avaliação das complicações crónicas da diabetes.

 

  • Nas mulheres que fazem insulina ou antidiabéticos orais pode ser necessário modificar a terapêutica para adequar à gravidez. Outros fármacos poderão ter de ser interrompidos ou substituídos, de acordo com a situação.

 

  • Não esquecer que as medidas gerais que se explicaram atrás também se aplicam à mulher com diabetes e não devem ser descuradas.

 

Planear a gravidez na mulher com diabetes implica uma equipa de vários profissionais, sendo que o principal interveniente é a própria mulher. Ela tem de ser o membro mais ativo desta equipa, empenhando-se no controlo metabólico e modificando hábitos menos saudáveis.

 

Quando estes objetivos tiverem sido atingidos pode então parar a contraceção. A partir desta altura a mulher deve pensar em si «como grávida». Ou seja, não deve tomar medicamentos ou realizar exames sem indicação médica explícita.

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Planear a gravidez na mulher com diabetes

Implicações da diabetes na gravidez

 

Para além dos riscos de complicações fetais, a mulher com diabetes tem um maior risco de:

 

  • ameaça de parto pré-termo
  • hipertensão (e das suas complicações)
  • infeções como a cistite, pielonefrite e candidíase vulvovaginal.

 

O controlo glicémico adequado ao longo da gravidez diminui o risco da sua ocorrência. Porém, a vigilância é sempre mais «apertada» do que nas mulheres sem patologia.

 

As complicações crónicas da diabetes podem sofrer agravamento ao longo da gravidez, impondo complicações adicionais para a mulher e para o feto.

 

Implicações da gravidez na diabetes

 

Durante o primeiro trimestre de gravidez podem ocorrer episódios de hipoglicemia, em especial se a mulher tem náuseas e come menos, ou vomita. Os familiares mais próximos devem estar atentos a esta situação e preparados para agir caso aconteça.

 

A retinopatia pode agravar ou surgir ao longo da gravidez. Devem ser por isso realizadas reavaliações oftalmológicas periódicas durante a gestação.

 

Quando já existe doença renal com proteinúria (perda de proteínas na urina), há o risco de agravamento ao longo da gravidez. Em algumas situações será reversível, noutras a lesão tornar-se-á permanente.

 

A hipertensão crónica (anterior à gravidez) pode sofrer agravamento com a gravidez, complicando as anteriores situações.

 

Em resumo, os riscos e consequências que decorrem de uma gravidez numa mulher com diabetes estão acima de tudo relacionados com a existência, tipo e gravidade das complicações crónicas pré-existentes. As repercussões na saúde futura da mulher devem ser discutidas com o médico assistente.

 

Algumas das alterações que surgem ao longo da gravidez são transitórias, mas outras serão definitivas. Mas, muitas mulheres com diabetes têm hoje em dia gravidezes bem-sucedidas, sem complicações significativas. Em caso de qualquer dúvida, já sabe: discuta com a sua equipa de saúde antecipadamente.

 

Por fim, junte-de à comunidade Diabetes 365º!

Referências
  • Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP)

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