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É possível reverter a diabetes?

As chamadas cirurgias metabólicas podem permitir a quem tem diabetes tipo 2 manter a glicemia em jejum dentro dos níveis normais sem medicação. Mas nem todos os doentes beneficiam deste tratamento.

«A diabetes não é curável, mas a do tipo 2 pode ser revertida através de uma cirurgia metabólica, ou seja, podemos controlá-la ao ponto de entrar em remissão», refere o médico cirurgião geral Rui Ribeiro, Coordenador do Centro Multidisciplinar da Doença Metabólica da Clínica de Santo António, da Lusíadas Saúde. Por outras palavras, «o doente operado fica como se estivesse curado», sendo a cirurgia «quatro ou cinco vezes mais eficaz do que qualquer tratamento médico, como a toma de medicamentos, como foi demonstrado nos últimos anos através de vários trabalhos científicos», refere Rui Ribeiro.

 

Nem todos os indivíduos com diabetes são, contudo, candidatos a estas cirurgias (ver caixa) visto, no geral, estas «só resultarem se o pâncreas ainda tiver capacidade de produzir insulina; se o órgão já estiver exausto e, por isso, não produzir insulina, é impossível reverter a diabetes», salienta o especialista. Já o tipo de cirurgia a realizar vai depender do caso em questão, sendo que, por exemplo, «se o doente sofrer de diabetes há mais de dez anos, se já faz insulina, terá de se realizar uma cirurgia mais complexa. Se a pessoa tiver diabetes há seis meses e apenas tomar um comprimido, poderá ser suficiente uma cirurgia mais simples como a da redução do estômago», conclui.

Como é que é possível reverter a diabetes?

A diabetes surge porque o «açúcar que está no sangue não é capaz de entrar nas células, o que leva o pâncreas a produzir mais insulina do que o normal e esta acaba por se gastar e o doente fica insulinorresistente». Acontece que «o metabolismo dos hidratos de carbono (açucares) e dos lípidos é, em muitos aspetos, comandado pelo tubo digestivo e, portanto, tendo isto em conta, os princípios básicos das cirurgias para tratar a diabetes consistem em reduzir o estômago e retirar a comida do duodeno (início do intestino delgado), fazendo-a chegar mais depressa ao íleo terminal (parte final do intestino delgado), o que ajuda a impedir a produção de hormonas prejudiciais à diabetes e leva à produção de outras fundamentais para o funcionamento do pâncreas», explica Rui Ribeiro.

 

Neste sentido, por exemplo, por um lado, «o estômago deixa de produzir grelina (hormona relacionada com a vontade de comer e com o armazenamento de energia); e, por outro, na parte final do intestino delgado, são produzidas hormonas que levam a um renascer do pâncreas», o que resulta num aumento da produção de insulina». Como as células do corpo voltam a receber normalmente o açúcar proveniente do sangue, pois o bloqueio à sua entrada acabou, «estamos a resolver a diabetes», indica o especialista.

Que cirurgias são estas afinal?

A maior parte das cirurgias metabólicas tem como alvo o aparelho gastrointestinal. Neste rol, incluem-se as bariátricas, «as quais se recorre sobretudo para o tratamento da obesidade mórbida, mas que também tem um efeito positivo na diabetes; e ainda outras cirurgias que não são bariátricas, como a interposição ileal e a bipartição intestinal», especifica o cirurgião geral. «Como 80 a 90 % dos indivíduos com diabetes tipo 2 tem peso a mais ou obesidade, as cirurgias bariátricas são aquelas a que mais se recorre», refere o especialista.

Há várias técnicas, «que são escolhidas de acordo com o perfil do doente», porém as mais frequentes, ainda de acordo com Rui Ribeiro, «são o bypass gástrico, que é a cirurgia padrão, a derivação biliopancreática e o duodenal switch, sendo esta mais complexa e com possíveis complicações nutricionais, como falta de ferro e de cálcio». Nas situações em que os doentes diabéticos são magros ou não têm peso a mais, «se os submetêssemos a uma cirurgia bariátrica, poderiam começar a perder peso, o que não é desejável, daí recorrer-se, nestas situações, por exemplo, à interposição ileal ou à bipartição intestinal».

Quais os riscos?

As várias cirurgias realizadas no âmbito do tratamento da diabetes «são muito seguras e possuem o mesmo baixo risco que uma cirurgia para retirar a vesícula ou de uma histerectomia [remoção do útero]». Também em termos de complicações, «são raras, menos de 2% , sendo as mais graves as fístulas e as hemorragias».

Qual a percentagem de sucesso?

Considera-se que a diabetes está em remissão quando ao fim de um ano a pessoa não toma medicamentos e tem a glicemia em jejum (abaixo de 110) e a hemoglobina glicada (abaixo de seis por cento) dentro dos valores normais. Neste sentido, Rui Ribeiro indica-nos a taxa de remissão de algumas das cirurgias feitas para tratar a diabetes: «No bypass gástrico, tem-se como referência uma taxa de cerca de 80%». Já no bypass de anastomose única, «que é um conceito mais moderno e mais dirigido aos efeitos metabólicos e, por isso, à diabetes, a taxa de remissão chega a ser acima dos 90%».

Após a remissão, é possível voltar a ter diabetes?

A taxa de recidiva (pessoas que voltam a ter diabetes ao fim de 5anos), «no bypass tradicional pode ir aos 30/40%, num bypass de anastomose única fica abaixo dos 10%». Mas há, segundo o especialista, cirurgias que garantem ainda melhores resultados, «como o duodenal switch, que tem taxas de remissão de 90% e taxas muito baixas de recidivas, na ordem dos dez por cento». Mas, tal como na obesidade, na diabetes, «a cirurgia é o princípio do tratamento e não o fim», sublinha Rui Ribeiro, salvaguardando que «estes doentes têm de fazer alterações comportamentais para não ficarem novamente com diabetes (ver galeria)». Se as fizerem, ou seja, se «mantiverem um estilo de vida saudável, podem ficar livres de diabetes para o resto da vida».

No entanto, se, eventualmente, a pessoa voltar a ter diabetes, «esta nunca terá a mesma intensidade que tinha antes da cirurgia», salienta o cirurgião. E, nos casos em que a diabetes não entrou em remissão após a operação, há «grandes melhorias ao nível da sua gravidade», conclui.

Cirurgia metabólica: É para si?

O médico cirurgião geral Rui Ribeiro indica os critérios que indicam se uma pessoa é ou não boa candidata a uma cirurgia metabólica:

 

Quem não é candidato à cirurgia

 

  • Doentes com diabetes tipo 1, a não ser excecionalmente: a diabetes nunca entrará em remissão, mas os pacientes podem melhorar o seu bem-estar;
  • Doentes com diabetes tipo 2 que já não produzem insulina.

 

Quem tem menos hipótese de sucesso

 

  • Diabéticos  tipo 2 há mais de 10 anos;
  • Doentes com uma hemoglobina glicada superior a 10%;
  • Doentes que fazem mais de três medicamentos antidiabéticos;
  • Diabéticos com mais de 65 anos.

 

O melhor candidato

 

Uma pessoa com diabetes tipo 2 que:

  • Tenha obesidade mórbida (IMC acima de 40).
  • Tenha um IMC entre 30 e 35, em que os medicamentos não conseguem controlar a doença.

 

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Mantenha-se saudável

Após a realização de uma cirurgia metabólica, é preciso manter um estilo de vida saudável para não haver recidivas. Nesta galeria de imagens, a nutricionista Rossela Bragança indica estratégias que devem ser postas em prática diariamente.

  • Faça uma alimentação saudável

    1 / 8
  • Controle o índice glicémico das suas refeições

    2 / 8
  • Faça atividade física

    3 / 8
  • Não fume

    4 / 8
  • Reduza o stresse

    5 / 8
  • Faça uma boa higiene de sono

    6 / 8
  • Não consuma bebidas alcoólicas

    7 / 8
  • Faça visitas regulares ao seu médico assistente

    8 / 8

Para uma alimentação saudável…

 

  • Dê prioridade às proteínas: lacticínios magros, iogurtes proteicos, carnes magras, peixe e ovos.
  • Inclua fibras na sua refeição: legumes, hortaliças e leguminosas.
  • Evite os hidratos de carbono de absorção rápida: como croissants, bolachas, pãezinhos, bolos de pastelaria.
  • Evite gorduras saturadas: opte por azeite, peixes gordos (cavala, sardinhas).
  • Hidrate-se ao longo do dia: beba entre um litro e meio e dois litros de água ou chá.
  • Leia os rótulos: compare a quantidade de hidratos de carbono entre produtos e, na dúvida, opte pelos que têm mais fibra.

 

Controle o índice glicémico das suas refeições

 

  • Evite alimentos processados: quanto mais processado for o alimento, maior o seu índice glicémico.
  • Evite sumos naturais: contêm muita frutose e não incluem a fibra, que é o que ajuda a controlar a glicemia.
  • Coma a fruta ao natural: de preferência com casca depois de bem lavada. Evite a que tem mais hidratos de carbono — banana, uvas e figos — e prefira morangos, melancia e frutos vermelhos.
  • Evite feijão de lata: tem um índice glicémico mais elevado. Em vez disso, coza-o na panela de pressão para ter um índice glicémico mais baixo.

 

Estratégias de atividade física

 

  • Pratique com mais frequência, durante menos tempo: em vez de passar a semana parada e depois caminhar 2horas e meia ao fim de semana.
  • Adapte a atividade à sua condição física: um bom plano de treino inclui uma caminhada de, pelo menos, 30 minutos por dia ou natação, uma hora, 2vezes por semana.
  • Procure aconselhamento de profissional: para evitar que a atividade física piore a sua condição atual, especialmente, se tem doença cardíaca ou outras patologias.
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Referências
  • Revista Prevenir

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